S&P aponta piora fiscal e crescimento lento e rebaixa nota do Brasil
Rating de longo prazo em moeda estrangeira passou de BBB para BBB-, com perspectiva estável; País ainda se mantém dentro do grau de investimento
24 de março de 2014 | 18h 27
SÃO PAULO - A agência de classificação de risco Standard & Poor's anunciou
nesta segunda-feira, 24, o temido rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
O
rating da dívida de longo prazo do País em moeda estrangeira foi rebaixado de
BBB para BBB-. A
perspectiva da nota agora é estável.
Apesar do rebaixamento, o País se mantém
dentro do grau de investimento, alcançado em 2008.
Segundo relatório
da S&P, "o rebaixamento reflete a combinação de derrapagem fiscal, a
perspectiva de que a execução fiscal permanecerá fraca, em meio a um
crescimento moderado nos próximos anos, uma capacidade limitada para ajustar a
política antes da eleição presidencial de outubro e um certo enfraquecimento
das contas externas do Brasil. A perspectiva de crescimento lento reflete tanto
fatores cíclicos como estruturais, incluindo o investimento como parcela do PIB
de apenas 18% em 2013 e uma desaceleração do crescimento da força de trabalho.
Combinados, esses fatores destacam o espaço diminuído do governo para manobrar
em face de choques externos".
Segundo fontes do
mercado ouvidas pelo Broadcast, serviço em tempo
real da Agência Estado, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, soube da decisão do S&P ainda no meio da tarde de
hoje. Mas, em geral, o anúncio surpreendeu o governo. Durante a tarde, Mantega
alterou sua agenda oficial para participar de reunião da presidente Dilma
Rousseff com os principais banqueiros do País.
A decisão desta
segunda-feira poderá dificultar a estratégia do governo de atrair investidores
e recuperar a credibilidade perdida após manobras para fechar as contas nos
últimos dois anos - ponto destacado pela agência no comunicado.
Uma equipe da
S&P esteve no Brasil na semana do dia 10 de março com o objetivo passar um
pente-fino nas contas públicas e conversar com agentes do mercado, investidores
e autoridades do governo. Na ocasião, a força-tarefa da S&P participou de
encontros com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a diretoria do Banco
Central e com representantes do Ministério das Comunicações.
O rating da dívida de longo prazo do
País em moeda local também foi rebaixado, para BBB+ de A-. E
o rating de crédito de curto prazo em moeda estrangeira foi reduzido para A3,
de A2. Já a nota da dívida de curto prazo em moeda local foi mantido em A2.
O rating em escala nacional também foi mantido inalterado, em brAAA, com
perspectiva estável.
Considerando a
classificação da S&P para a dívida soberana de longo prazo de países da
América Latina, Chile, Colômbia, México, Panamá e Peru têm ratings superiores
ao do Brasil.
Credibilidade. O documento também diz que "a credibilidade da conduta da
política fiscal enfraqueceu sistematicamente, à medida que o governo isentou
vários itens de receita e de gastos da meta fiscal, além de rebaixar a própria
meta ao longo do tempo". O uso persistente de bancos estatais,
financiados por recursos "por baixo do pano" do Tesouro, também minou
a credibilidade e a transparência da política, afirma a agência.
A S&P também
ressaltou a situação do setor elétrico. "A
implementação das medidas recentemente anunciadas para gerir perdas no setor
elétrico (tendo em vista a falta de chuvas e a dependência da energia térmica
de alto custo), com uma elevação limitada das tarifas da eletricidade em ano
eleitoral, pode ser um desafio", diz o documento.
Sinais
positivos. A agência destaca que o governo parece
estar reduzindo o ritmo da concessão de crédito pelos bancos estatais, e com
isso o financiamento "por baixo do pano" para eles por parte do
Tesouro. Se isso permanecer nos trilhos, afirma a S&P, ao longo do tempo
deverá ser positivo para o rating.
"Contudo,
outros riscos fiscais negativos derivam do desempenho dos governos estaduais e
municipais (cujos déficits não são mais compensados pelo governo federal) e de
uma decisão iminente do Supremo Tribunal sobre contas de poupança (que poderá
resultar em o governo ter de cobrir perdas no setor bancário). Combinados,
esses fatores poderão colocar pressão adicional sobre o desempenho fiscal do
Brasil no futuro", prossegue o texto.
Para 2014, o
governo anunciou uma meta de superávit primário (economia para pagar os juros
da dívida) de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo porcentual cumprido em
2013.
Os ratings na América Latina
Rebaixamento reflete combinação de fatores, diz S&P
ALTAMIRO SILVA JÚNIOR (CORRESPONDENTE) E ÁLVARO CAMPOS - Agencia Estado
NOVA YORK - Uma combinação de fatores, que inclui a piora das contas fiscais e das contas externas, fez a Standard & Poor''s (S&P) rebaixar nesta segunda-feira, 24, o rating soberano do Brasil, de acordo com a diretora responsável por Brasil na agência de classificação de risco, Lisa Schineller, em uma teleconferência para comentar a decisão.
A deterioração nos indicadores do Brasil vem ocorrendo nos últimos anos e minou a credibilidade do governo na condução da política fiscal, destacou Lisa na teleconferência. "A credibilidade do governo para a condução da política fiscal se deteriorou", disse ela. "Políticas econômicas mais consistentes, no lado fiscal, dando maior clareza nas contas, na trajetória da dívida", destaca Lisa, seriam fatores que ajudariam na melhora do rating brasileiro, que ficou com perspectiva "estável".
Em ano eleitoral, a diretora da S&P destaca que a capacidade do governo brasileiro de fazer ajustes em sua política fica ainda mais complicada. Lisa disse que será difícil o Brasil conseguir alcançar a meta de superávit primário de 1,9% este ano.
O Brasil vai continuar com crescimento baixo nos próximos anos, se expandindo menos que seu potencial. Para 2014, a S&P prevê expansão de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Em meio a esta projeção, as perspectivas para as contas fiscais também continuam fracas, disse ela.
Lisa lembrou que a S&P colocou a nota brasileira em perspectiva negativa em junho do ano passado e pouco mudou no País desde então. Os indicadores externos, por exemplo, continuaram a se deteriorar, destacou na teleconferência.
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