March 29, 2014 - 11:00
Bene Vieira, o nome da pecuária leiteira do Vale
Na luta há 20 anos contra o leite longa vida, Cooper briga pelo mercado e prevê lançamento de produtos
Wagner Matheus
Especial para O Vale
A história da pecuária leiteira do Vale do Paraíba está ligada à sua família desde 1935. E desde 1991 ele preside a Cooper (Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos).
Benedito Vieira Pereira, o “Bene”, divide sua rotina todos os dias entre a cidade e o campo. Ele mesmo insemina as vacas do rebanho.
A maior “missão” da vida de Bene Vieira, porém, é a batalha que enfrenta há mais de 20 anos contra o leite longa vida, que tomou conta de 85% do mercado brasileiro. Seu mais recente desafio: convencer um consumidor por dia a voltar a tomar leite pasteurizado.
Veja a seguir os melhores trechos da entrevista de Bene Vieira a O VALE:
Sua família faz parte da história da pecuária de leite na região. Como tudo isso começou?Meu avô, Roque Vieira da Silva, foi o fundador da primeira cooperativa de laticínios da região, o leite Paulista, que foi fundada em 1935 em Roseira. E o último fundador daquela cooperativa a falecer foi o meu pai, João Justo Pereira. Em 1936, meu pai veio para São José e foi um dos fundadores da Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos. Junto com ele veio meu tio, Jorge Vieira da Silva. Como diretor e também presidente, ele foi o responsável pelo grande salto que deu a Cooperativa.
O senhor é advogado, mas nunca deixou de ser pecuarista. Como foi a sua trajetória profissional?Eu nasci no meio rural. Embora tenha estudado, feito direito e exercido por pouco tempo, a nossa origem é rural, dos tempos em que o produtor merecia um pouco mais de respeito, principalmente por parte dos governos. Era um pouco mais digno ser produtor rural. A partir de meados da década de 60, com o crescimento da indústria brasileira, especialmente a automobilística, o produtor rural, principalmente o pequeno produtor, foi desaparecendo e deixando de ser interessante para o crescimento do país.
Há quanto tempo o senhor está à frente da Cooper?Estive três anos como diretor-vogal da Cooperativa, na década de 80. Em 1991, entrei como presidente e permaneço até agora, no oitavo mandato.
Para a Cooper ser competitiva no mercado atual ela parece estar passando por uma reengenharia. Como é isto?Quando a Cooper se desvinculou da Cooperativa Central de Laticínios, em meados da década de 80, foi uma época muito boa porque só existia no Brasil o leite pasteurizado resfriado. Favorecia o fato de a gente estar em uma posição geográfica muito interessante em termos comerciais, ou seja, dentro de uma grande cidade, São José dos Campos, e próximos especialmente da capital paulista. A maior parte da nossa produção era comercializada em São Paulo. Isso fez com que crescesse a bacia leiteira do Vale do Paraíba como uma das maiores regiões produtoras do país.
Já foi a maior bacia leiteira do Brasil...Já foi, no passado. Porque o leite sempre existiu como leite pasteurizado fresco, que é o melhor leite a ser consumido. Porém, no início da década de 90 uniram-se os dois elos mais fortes da cadeia produtiva do leite — a fabricante da embalagem de caixinha e as grande redes de supermercados — e conseguiram, através do poder econômico, mudar o hábito alimentar da população brasileira. Do que nós discordamos é que aqueles lugares onde existe a produção do leite fresco pasteurizado e resfriado, que é o caso específico do Vale do Paraíba e até mesmo da capital paulista, aquelas pessoas que mudaram de hábito, fizeram isso porque o poder econômico, através da grande mídia, lhe colocou “goela abaixo” esse leite de qualidade muito inferior.
A Cooper é hoje uma empresa saudável?É uma empresa saudável, mas marchando com os pés no chão e dançando de acordo com a música.
E a sua atuação nas entidade de classe? O mesmo discurso o senhor leva até elas?Exatamente. Há cerca de oito anos nós temos uma associação que nasceu exatamente para defender esse tipo de produto, que é a Abilp, Associação Brasileira das Indústrias de Leite Pasteurizado. E estamos lutando até hoje. Na semana passada nós fomos a Brasília, pois o lobby do leite longa vida é tão forte, está destruindo de tal maneira o leite pasteurizado, que está tentando tirar de linha o leite B, nosso carro-chefe e nosso melhor produto.
Qual é a participação do longa vida no mercado brasileiro?No final da década de 80, início da de 90, eles tinham 0,5% do mercado. Hoje, devem ter, no Brasil, acima de 85% de participação no mercado.
Como a Cooper está se preparando para o futuro?O grande problema de administrar uma cooperativa é equilibrar a captação e o consumo. Então procuramos nos modernizar o máximo possível, com equipamentos de última geração, ter produtos de alta qualidade e sempre estar inovando, seja na linha de produtos, seja no tipo de embalagem. Temos dois produtos novos para serem lançados no mercado nos próximos três meses. Um deles é o iogurte com probióticos e o outro é o iogurte natural light. Também foi lançado recentemente um queijo light com a marca Parahyba, que é uma segunda marca nossa. Temos atendido bem o mercado.
O senhor é administrador e fazendeiro. Como lida com isso?Assim que terminar esta entrevista, vou para a fazenda inseminar duas vacas, o meu gado sou eu que insemino. Trabalho com um pouco de gado de corte também, mas o que eu gosto é de gado de leite.
É o que lhe dá mais prazer...É, é a minha origem. Se pudesse viver somente mexendo com as vacas, faria isso.
E a sua rotina?Eu me levanto cedo, por volta de seis horas, vou para a fazenda, às oito e pouco da manhã estou na Cooperativa e à tarde volto para a fazenda. Todos os dias é isso. Outro dia me perguntaram se já me aposentei. Não me aposentei e não vou me aposentar.
Leia a entrevista na íntegra
Cooper está em mais de 20 cidadesFundada em 1935, a Cooper possui hoje uma linha com 18 produtos. Atende cerca de 20 municípios. Com o lançamento da garrafa de vidro a empresa está aumentando sua presença no mercado da Capital. Tem 150 cooperados e mais, além de fornecedores não associados. A captação e a comercialização giram em torno de 70 mil a 75 mil litros/ dia.
Usina tem que examinar produto“Onde houve esse tipo de problema, alguns falam que é culpa dos transportadores. Mas é obrigação da usina que recebe o leite examinar o produto que vai utilizar. Não estamos livres de receber leite adulterado. Por isso, antes de colocar o produto no mercado devemos analisá-lo. O consumidor deve tomar o leite em que ele confia”, diz Bene Vieira.
Especial para O Vale
A história da pecuária leiteira do Vale do Paraíba está ligada à sua família desde 1935. E desde 1991 ele preside a Cooper (Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos).
Benedito Vieira Pereira, o “Bene”, divide sua rotina todos os dias entre a cidade e o campo. Ele mesmo insemina as vacas do rebanho.
A maior “missão” da vida de Bene Vieira, porém, é a batalha que enfrenta há mais de 20 anos contra o leite longa vida, que tomou conta de 85% do mercado brasileiro. Seu mais recente desafio: convencer um consumidor por dia a voltar a tomar leite pasteurizado.
Veja a seguir os melhores trechos da entrevista de Bene Vieira a O VALE:
Sua família faz parte da história da pecuária de leite na região. Como tudo isso começou?Meu avô, Roque Vieira da Silva, foi o fundador da primeira cooperativa de laticínios da região, o leite Paulista, que foi fundada em 1935 em Roseira. E o último fundador daquela cooperativa a falecer foi o meu pai, João Justo Pereira. Em 1936, meu pai veio para São José e foi um dos fundadores da Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos. Junto com ele veio meu tio, Jorge Vieira da Silva. Como diretor e também presidente, ele foi o responsável pelo grande salto que deu a Cooperativa.
O senhor é advogado, mas nunca deixou de ser pecuarista. Como foi a sua trajetória profissional?Eu nasci no meio rural. Embora tenha estudado, feito direito e exercido por pouco tempo, a nossa origem é rural, dos tempos em que o produtor merecia um pouco mais de respeito, principalmente por parte dos governos. Era um pouco mais digno ser produtor rural. A partir de meados da década de 60, com o crescimento da indústria brasileira, especialmente a automobilística, o produtor rural, principalmente o pequeno produtor, foi desaparecendo e deixando de ser interessante para o crescimento do país.
Há quanto tempo o senhor está à frente da Cooper?Estive três anos como diretor-vogal da Cooperativa, na década de 80. Em 1991, entrei como presidente e permaneço até agora, no oitavo mandato.
Para a Cooper ser competitiva no mercado atual ela parece estar passando por uma reengenharia. Como é isto?Quando a Cooper se desvinculou da Cooperativa Central de Laticínios, em meados da década de 80, foi uma época muito boa porque só existia no Brasil o leite pasteurizado resfriado. Favorecia o fato de a gente estar em uma posição geográfica muito interessante em termos comerciais, ou seja, dentro de uma grande cidade, São José dos Campos, e próximos especialmente da capital paulista. A maior parte da nossa produção era comercializada em São Paulo. Isso fez com que crescesse a bacia leiteira do Vale do Paraíba como uma das maiores regiões produtoras do país.
Já foi a maior bacia leiteira do Brasil...Já foi, no passado. Porque o leite sempre existiu como leite pasteurizado fresco, que é o melhor leite a ser consumido. Porém, no início da década de 90 uniram-se os dois elos mais fortes da cadeia produtiva do leite — a fabricante da embalagem de caixinha e as grande redes de supermercados — e conseguiram, através do poder econômico, mudar o hábito alimentar da população brasileira. Do que nós discordamos é que aqueles lugares onde existe a produção do leite fresco pasteurizado e resfriado, que é o caso específico do Vale do Paraíba e até mesmo da capital paulista, aquelas pessoas que mudaram de hábito, fizeram isso porque o poder econômico, através da grande mídia, lhe colocou “goela abaixo” esse leite de qualidade muito inferior.
A Cooper é hoje uma empresa saudável?É uma empresa saudável, mas marchando com os pés no chão e dançando de acordo com a música.
E a sua atuação nas entidade de classe? O mesmo discurso o senhor leva até elas?Exatamente. Há cerca de oito anos nós temos uma associação que nasceu exatamente para defender esse tipo de produto, que é a Abilp, Associação Brasileira das Indústrias de Leite Pasteurizado. E estamos lutando até hoje. Na semana passada nós fomos a Brasília, pois o lobby do leite longa vida é tão forte, está destruindo de tal maneira o leite pasteurizado, que está tentando tirar de linha o leite B, nosso carro-chefe e nosso melhor produto.
Qual é a participação do longa vida no mercado brasileiro?No final da década de 80, início da de 90, eles tinham 0,5% do mercado. Hoje, devem ter, no Brasil, acima de 85% de participação no mercado.
Como a Cooper está se preparando para o futuro?O grande problema de administrar uma cooperativa é equilibrar a captação e o consumo. Então procuramos nos modernizar o máximo possível, com equipamentos de última geração, ter produtos de alta qualidade e sempre estar inovando, seja na linha de produtos, seja no tipo de embalagem. Temos dois produtos novos para serem lançados no mercado nos próximos três meses. Um deles é o iogurte com probióticos e o outro é o iogurte natural light. Também foi lançado recentemente um queijo light com a marca Parahyba, que é uma segunda marca nossa. Temos atendido bem o mercado.
O senhor é administrador e fazendeiro. Como lida com isso?Assim que terminar esta entrevista, vou para a fazenda inseminar duas vacas, o meu gado sou eu que insemino. Trabalho com um pouco de gado de corte também, mas o que eu gosto é de gado de leite.
É o que lhe dá mais prazer...É, é a minha origem. Se pudesse viver somente mexendo com as vacas, faria isso.
E a sua rotina?Eu me levanto cedo, por volta de seis horas, vou para a fazenda, às oito e pouco da manhã estou na Cooperativa e à tarde volto para a fazenda. Todos os dias é isso. Outro dia me perguntaram se já me aposentei. Não me aposentei e não vou me aposentar.
Leia a entrevista na íntegra
Cooper está em mais de 20 cidadesFundada em 1935, a Cooper possui hoje uma linha com 18 produtos. Atende cerca de 20 municípios. Com o lançamento da garrafa de vidro a empresa está aumentando sua presença no mercado da Capital. Tem 150 cooperados e mais, além de fornecedores não associados. A captação e a comercialização giram em torno de 70 mil a 75 mil litros/ dia.
Usina tem que examinar produto“Onde houve esse tipo de problema, alguns falam que é culpa dos transportadores. Mas é obrigação da usina que recebe o leite examinar o produto que vai utilizar. Não estamos livres de receber leite adulterado. Por isso, antes de colocar o produto no mercado devemos analisá-lo. O consumidor deve tomar o leite em que ele confia”, diz Bene Vieira.